A morte de um ídolo toca as pessoas não tanto pela perda da figura idolatrada, mas pelos momentos de vida a ela associados, que acabam partindo junto com o astro. Quando aprendemos a admirar um cantor, por exemplo, geralmente o fazemos ouvindo sua música em momentos que nos são aprazíveis. Aí relacionamos um ao outro, e assim guardamos passagens mágicas da nossa existência.
Foi assim que virei fã de Michael Jackson. Tinha sete anos de idade quando meus pais, não sei se comprando ou ganhando, trouxeram Thriller para casa. Era 1982. Eu o ouvia em uma caixa de abelha antiguissima, um toca discos dos anos 70 que compráramos em Lages antes de virmos para Blumenau.
Passava os dias ouvindo Jackson, olhando a capa do disco, o encarte, fitando o semblante do astro e sonhando ser igual ele. Thriller tem três grandes clássicos: a música que dá título ao disco, Billie Jean e Beat It, que virou símbolo de uma nova atitude transgressora. Mas tem também pérolas como Human Nature e The Girl Is Mine, num dueto com Paul McCartney. É um vinil sensacional!
Meus sonhos eram embalados por aquela música. Num tempo em que acreditamos que o mundo será do jeito que quisermos. E eu queria que fosse aquelas coisas que eu imaginava ouvindo Jackson. Queria ser capaz de brilhar através da arte, ser conhecido por algum talento incomum; na verdade queria ser uma estrela também.
Aí crescemos e descobrimos que a maioria dos nossos sonhos não vai tornar-se realidade. Mas enquanto o ídolo vive, parece que sempre há alguma chance, por mais que saibamos que não haja. Quando ele morre, porém, a ficha cai de vez. Chega então a prova de que o tempo passou, e aquela música também. Os sonhos ficaram na memória, assim com os momentos nos quais eles nasceram.
Senti de verdade a morte de Jackson. Fiquei de fato triste, até me emocionei. Parece que perdi alguém próximo, incrível isto.