quinta-feira, 30 de abril de 2009

A cassação do Marçal

E foi o Tião Aragão que ontem, lá no futebol, apontou um erro cometido por mim na nota Marçal X Honra do Legislativo (leia mais abaixo). O vereador, que tentou burlar a lei de trânsito coagindo agentes do Seterb, deve ser cassado, e não caçado, como escrevi. Caçar, com cedilha, tem sentido de caça a animais, com o empunhamento, ou não, de armas. Já cassar, com dois "s", significa a retirada de um mandato eletivo.
Mas não tardou para que, enquanto o Tião me alertava da diferença, um sujeito que tomava banho no vestiário - e ouvia nossa conversa - largasse esta:
- Político tem que ser caçado com "c cedilha" mesmo.
Juro que é verdade, foi o cara mesmo que falou. Meu alter ego, infelizmente, não seria capaz de lapidar tão bela pérola. De qualquer forma, vale a correção: Marçal deve ser cassado, e não caçado.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

A reação blumenauense

Confesso que de início imaginei tratar-se apenas de um delírio do Fabrício Wolff, que passava o dia inteiro na cama por causa de uma fratura na perna esquerda. Pouco antes de ele aparecer com a ideia, escrevi o artigo Deboche (19/3, veja arquivo), aqui no Blog, também acreditando que não alcançaria nenhuma projeção mais significativa. Mas, pelo jeito, tanto a proposta "maluca" do Fabrício quanto as minhas ferrolhadas no Poder Central já nasciam fadadas ao sucesso.
Nesta semana, A campanha Reage Blumenau chegou ao cume da montanha. Em Brasília, o canetaço que libera recursos para a reconstrução da cidade enfim aconteceu. Aqui, a vereadora Norma Dickmann (foto) propôs, através de um requerimento, congratulações aos blogueiros que participaram do movimento: Fabrício Wolff, Alexandre Gonçalves, Márcio Santos e o missivista que aqui a vos escreve neste momento. Há duas semanas, já havíamos recebido a visita do deputato federal José Carlos Vieira, que comprou a briga junto com a gente e organizou uma audiência pública no Congresso para tratar do assunto. Convidou-nos para levar um relato da situação aos parlamentares, mas nossas limitações físicas (a enfermidade do Wolff) e orçamentarias impediram a empreitada.
A campanha Reage Blumenau consistiu em uma cadeia de e-mails enviados por nós e por nossos leitores a deputados, senadores e demais representantes da região em Brasília. O textos, criados pelo Fabrício, eram padrão e cobravam ações urgentes para reconstruir Blumenau e o Vale.
A comemoração, porém, só faremos quando obras como a Via Expressa e a galeria fluvial do Sesi, entre outras, estiveram prontas. Até lá a cobrança continua. Afinal, sabe como são as coisas na esfera pública: entre o anúncio da obra e sua entrega, há um longo, longuíssimo caminho. Muitas vezes, inclusive, são caminhos sem fim. Espero que agora não seja este o caso.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Cutucadas


Cutucada 1
Será que a prefeitura precisava gastar tanto com propaganda neste momento? Com tanta demanda por recursos para a reconstrução da cidade, bem que o governo poderia economizar um pouco com publicidade. As inserções televisivas são intensas, mostrando aquelas que teriam sido obras do pós-novembro. Se tá faltando dinheiro para as obras mais importantes, que tal segurar um pouco a mão no bolso?

Cutucada 2
Também achei esquisito o prefeito João Paulo Kleinübing atuando como garoto propaganda do tal shopping do automóvel, construído no Trevo da Mafisa. Não que seja ilegal ou imoral, mas é esquisito. Trata-se de um investimento privado, com orçamento semelhante a muitos outros feitos na cidade recentemente. Acredito que o Giassi, por exemplo, gastou muito mais em seu supermercado, inaugurado no ano passado. Não lembro se o prefeito, naquela ocasião, também foi para frente das câmeras.

O peso do Ronaldo

Neste texto, o pessoal do G1 foi pra lá de capcioso, hein: "Apesar da enorme diferença de peso entre as competições, o craque exalta o lance que marcou o jogo do último domingo".
Na matéria, o portal mostra o atacante Ronaldo comparando os gols que marcou na final da Copa do Mundo, em 2002, com aquele, por cobertura, que fez no último domingo, pelo Corinthians, durante a final do Campeonato Paulista. Eles se referem à diferença de peso do Ronaldo ou das competições?? Ficou no mínimo engraçado, rsrsrs

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Marçal X honra do Legislativo


A Câmara de Vereadores de Blumenau não pode tolerar, de jeito algum, a conduta condenável do vereador João José Marçal (PP), que tentou colocar sua autoridade a serviço de irregularidades. Em uma gravação, cuja origem ninguém sabe ao certo, o parlamentar ameaça atacar o Seterb, em seus discursos na tribuna, caso a apreensão de um veículo de transporte escolar, em situação irregular, não seja revista por agentes de trânsito. Também diz que poderia prejudicar a autarquia na votação de um requerimento. No áudio da gravação, levada ao ar pela RIC Record no Jornal do Meio Dia desta segunda-feira, Marçal insinua ainda que, por ter participado da eleição do prefeito João Paulo Kleinübing (DEM), pedindo votos para o candidato democrata, mereceria tratamento diferenciado.
Pois eu acho que Marçal, que é membro da mesa Diretora da Câmara, deve ser caçado. A imagem da Câmara ficará arranhada se esta não for a saída encontrada. Um vereador tem a obrigação de zelar pela lei, já que, por definição, é um legislador. E os legisladores, eleitos pelo povo, chegam ao Parlamento com a missão de criar leis que melhorem a vida da população. Então pergunto: como confiar em um parlamentar que reivindica o descumprimento da lei? Se ele acha que leis devem ser descumpridas, com que responsabilidade criará outras para melhorar nossa vida?!
Não tenho nada contra o vereador na esfera pessoal, pode até ser boa gente, não sei, na verdade desconheço sua conduta. Como legislador, porém, tenho ressalvas. Quando disse que morreria de fome se sua mulher não trabalhasse - reclamando do salário de vereador na legislatura passada - Marçal já passou da conta. O eleitor, no entanto, considerou que ele merecia ser reeleito. O episódio em que ele tenta burlar os limites da lei, contudo, mostra que ele não está preparado para um papel tão importante como o de um parlamentar. Quem ganha o direito de sentar-se sobre uma cadeira da Câmara de Vereadores deve ter conduta inquestionável, acima de qualquer suspeita. Marçal, pelo jeito, não se enquadra neste perfil. Quero ver se os demais parlamentares se encaixam, dando o exemplo e caçando o progressista. Se não o fizerem, eu, pelo menos, ficarei de orelha em pé. A honra do Legislativo está em jogo.

sábado, 25 de abril de 2009

Parabéns, Furb!

Fiquei danado da vida comigo mesmo neste fim de semana. Estou embirrado até agora. Convidado para o almoço de comemoração dos 45 anos da Universidade Regional de Blumenau (Furb), cheguei na portaria do Tabajara Tênis Clube, sábado, às 11h50 min. Todo arrumado, apresentei-me ao porteiro de peito estufado, feliz da vida com meu primeiro convite para um evento já como blogueiro. Sequer acreditava que fosse verdade. Lacônico, porém, o jovem senhor me abordou:
- O amigo tem certeza que é aqui?
Certeza do lugar eu tinha. Só não tinha do dia certo, constatei então, pois o almoço fora na sexta-feira. Bem feito, quem mandou deixar de lado aquela última checagem que sempre evita vacilos como este!
Mas tudo bem, importante mesmo é o aniversário da Furb. Indo ou não indo ao evento da sexta, o teor da minha análise será o mesmo: a relevância da maior instituição de ensino do Vale do Itajaí para o desenvolvimento socioeconômico da região.
Além de produzir conhecimento e tecnologia, a universidade blumenauense gera riqueza, emprego e renda para os blumenauenses. Direta e indiretamente. Basta percorrer o entorno da Furb para entender o significado dela para a cidade. Ali estão os três maiores supermercados do município, uma das maiores concentrações de edifícios, o corredor de serviços dos mais frequentados (na rua Antônio da Veiga) e o mais intenso vai-e-vem de pessoas e automóveis. De acordo com o urbanista Arlon Tonolli, o bairro Victor Konder já tem índices de adensamento urbano comparáveis aos paulistas.
Por isso a Furb é sinonimo de desenvolvimento, não há dúvidas. Até mesmo porque já atrai também estudantes de outros estados brasileiros. Crânios e cérebros que aportam por aqui para miscigenar e enriquecer nossa massa intelectual e cultural. Muitos ficam por aqui, deixando nossa cidade cada vez mais cosmopolita.
Meu único receio está no processo de federalização. A proposta, a princípio, fortalece a instituição, isso é inegável. Tenho medo apenas dos reflexos da mudança para a microrregião. Tal como é hoje, a Furb tem sua vocação voltada predominantemente para o desenvolvimento regional. Seus projetos de extensão, iniciativas e parcerias, estão umbilicalmente ligados à sociedade local. O Sistema de Informações Gerenciais e de Apoio à Decisão (Sigad), por exemplo, fornece números e estatísticas locais indispensáveis para o planejamento das empresas e instituições que querem investir na cidade e na região. Continuaria existindo caso a Furb fosse federalizada?
Estudei na Universidade Federal de Santa Catarina por longos 6,5 anos. Vi como a maioria dos estudantes vem de fora, forma-se e volta para a terra Natal em busca de oportunidade. Gente graúda, oriunda de cursinhos matadores como Anglo, Objetivo e outros que preparam o estudante para entrar em vestibulares como o da Usp, Unicamp, Ita e outros de enorme dificuldade. Os japas paulistas, se houver a federalização, vão tirar muita vaga de manezinhos do Vale, não tenham dúvida. Esse é meu receio, que a gente daqui fique sem oportunidade.
Bom, mas como não sou especialista, seria leviano da minha parte aprofundar muito esta discussão. Quem entende do assunto é quem deve fazê-lo, com muita responsabilidade e zelo, para que não nos arrependamos no futuro.
Por ora, prefiro dizer apenas: parabéns Furb, muitos anos de vida!!!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A coisa tá feia

Aproveitei o feriadão e fui à Serra Catarinense, onde estão algumas das mais agradáveis paragens de Santa Catarina. Meti-me no mato sobre o qual já falei aqui - leia a nota Até quando - e dei-me quatro dias de ócio como presente. Mas um ócio produtivo, pois pude ler bastante e fazer mais algumas conjecturas que pretendo dividir aqui com vocês. Uma delas partiu de uma frase do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), publicada pela revista Veja na edicão de 17 de dezembro do ano passado. Nas páginas amarelas, o peemedebista declara o seguinte:
- Mandamos para Santa Catarina comida, colchões, barracas... reclamam dinheiro para a reconstrução do Estado, mas preciso dos documentos. Não mando verba por telefone nem faço festa da galinha gorda com dinheiro público.
Ele respondia a uma pergunta sobre o atraso na liberação dos recursos para a reconstrução do Estado, atingido em novembro pelo maior desastre ambiental da história catarinense. Disse ainda que "em momentos como esse (a tragédia), sempre aparecem oportunistas querendo se projetar em cima da desgraça alheia".
A quem ele se referia? Ao prefeito João Paulo Kleinübing (DEM), que hoje tem um colega de partido de Geddel como vice? Ou ao governador Luiz Henrique da Silveira, que também divide a casa peemedebista com o ministro?
De qualquer forma, ele ofendeu a todos nós com tais afirmações. É bom lembrar ao ministro que não precisamos de esmola - comida, colchões, barracas -, pois somos um estado trabalhador e altamente produtivo. O que queremos são os recursos a que temos direito como um dos mais sólidos contribuintes da nação. Queremos de volta nossa honra, queremos reconstruir nossa vida para seguir adiante enriquecendo o país, como sempre fizemos.
E agora, porque os recursos não chegam? Documentos já foram entregues a quilo - pelo menos é o que garantem nossos representantes. Quando veremos nossa Via Expressa reconstruída? Colocam ali cada vez mais placas sinalizando as áreas atingidas - contei 26 em uma extensão de 500 metros -, o que me leva a acreditar que obra mesmo ainda deve demorar.
É, como diria o filósofo contemporâneo, a coisa tá feia! Eu, se fosse o governador Luiz Henrique, chegava na direção nacional do partido e avisava: pessoal, o Geddelzão tá minando a confiança do povo na gente, não me deixem só!! Bom, mas se nem o presidente Lula dá jeito no Geddel, que só quer fazer obra na Bahia, imagina o Michel Temmer? A coisa tá mesmo feia...

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Futuro promissor

Fui bisbilhotar as obras da nova sede da Senior Sistemas no início da tarde de hoje. Cheguei por lá e fui entrando, sem nenhum incômodo, sem ser molestado por ninguém. Fiz umas fotos e saí, tudo numa boa, sem estresse, ao contrário do que costuma acontecer neste tipo de situação.
Fiquei muito bem impressionado com o que vi por lá. Trabalhadores e prestadores de serviço trabalhando a todo vapor, terraplanagem concluída, cabines logísticas de última geração, equipamentos e matéria-prima bem organizados. Os trabalhadores todos de capacete, inclusive o engenheiro.
Coisa de primeiro mundo. Como é bom ver uma iniciativa destas em plena crise. Enquanto alguns reclamam, a maior empresa de TI da cidade mantém seus planos de investimento, amplia sua estrutura, cresce na dificuldade. Justifica a fama dos blumenauenses.
A Senior deverá despejar ali, conforme previsto no projeto, R$ 10 milhões. Imagino que, quando um player desse porte decide manter planos tão ousados de investimento, é porque o cenário de médio e longo prazo se mostra promissor. Isso anima a todos. É uma vitrine de perspectivas positivas. Parabéns à Senior, que nos alivia a tensão em época de crise.

Por favor, Tia Justa

Quem disse que notícia velha não chama a atenção? Tava lendo o arquivo de um jornal da cidade e encontrei lá a informação de que a Justiça negou, dias atrás, pedido de indenização feito por clientes que mofaram na fila do banco Real, em Blumenau. Quer dizer: existe uma lei enquadrando como infração o excesso de demora para atendimento nos bancos, mas para a Tia Justa isso não é o suficiente para decidir a favor do cidadão?! Assim fica difícil, muito difícil, sinceramente, não consigo entender. Pôxa vida, pessoal, pensem um pouco em nós, que labutamos arduamente do lado de cá do balcão e só tomamos paulada. Pelo amor de Deus, parem um pouco de puxar apenas para o lado do poder. Por isso ando pensando em ir para a Dinamarca ou a Holanda, ainda quero experimentar um pouco a sensação de ser respeitado como cidadão...

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Ouçam o Bacca

Conheci o professor Lauro Bacca em 2000, quando comecei a trabalhar como jornalista, no Santa. Era minha primeira grande reportagem. Partimos do alto do Fachinal do Bepe, no topo do Parque das Nascentes, ao Sul do Vale do Itajaí, coração de uma das mais bem preservadas reservas de Mata Atlântica do país. Lembro como se fosse hoje: um dia cinzento e frio, com vento forte, refletido na copada das palmeiras gigantes que habitam aquela região. Penetramos na mata alta e densa pelo início da manhã. Andávamos sem enxergar os pés, pois estes sumiam em meio a uma enorme população de caetés, vistosos e robustos. Um tapete verde.
Em poucos passos, eu olhava ao redor e já não tinha a menor noção de onde estava. O Sul e o Norte haviam se fundido, aglutinando também o Leste e o Oeste. A floresta era uma coisa só, imponente, vistosa, magistral, fascinante e, ao mesmo tempo, aterradora. Mágica, simplesmente. Caminhávamos em cinco: eu, Bacca, Leocarlos Sieves, Elias (ex-presidente da Acaprena, que não lembro o sobrenome) e um estudante da Furb. O único capaz de nos orientar por aquela massa verde e homogênea, no entanto, era o Bacca. Ele guiava-se por um desses mapas denominados curva de nível, que nada mais são do que um emaranhado de linhas indecifráveis, pelo menos a "olho nu". Quem entende aquilo, porém, vê toda a sequência de relevos e cursos d´água de um local. E por estes indícios o professor e ambientalista nos levava pela Selva.
Em alguns minutos, chegamos a nosso objetivo: a nascente do Ribeirão Garcia. Ali, surge o córrego que, em novembro do ano passado, devastou o Sul de Blumenau, onde estão os Bairros Garcia e Progresso. Ele nasce preguiçoso, gota por gota, brotando da terra sob a raíz das árvores. Vem ao mundo como o herói Macunaíma, despretencioso, malevolente, inconsequente e cheio de preguiça. Juntas, contudo, as gotas vão ganhando força e começam a correr. Seguem em frente até tornarem-se um pequeno risco d´água, que persiste em sua saga e vai ganhando a adesão de outras pequeninas corredeiras. Aos poucos, o volume vai ganhando proporção e aí toma a face de um córrego caudaloso. Seguimos o leito do Garcia, ora pela água, ora pela terra.
Ao fim daquele dia, a noite começava a cair sobre a floresta e alguns de nós - como eu - já demonstravam certa aflição. Íamos em direção à chamada Terceira Vargem, uma base de aventureiros no alto do Parque das Nascentes. Passaríamos a noite lá, mas ainda estávamos longe e a luz do dia dava sinais de esgotamento.
A aflição ia rapidamante virando pavor, até que o Bacca, olhando aqueles hieróglifos geográficos, suspirou: é esse aqui!! Ele apontava para outro dos inúmeros córregos que margeiam o Ribeirão Garcia. Seguimos por ele até sair em uma estradinha escondida na mata, e esta, por sua vez, nos levou ao rancho da Terceira Vargem. Chegamos já no alto da noite. Comemos feijoada enlatada, tomamos um conhaque e demos boas risadas. Menos o Bacca, que preferiu seguir mais alguns quilômetros, usando uma lanterna, para vencer a mata e chegar à sua casa.
Conto tudo isso para mostrar o quanto o professor e ambientalista da Furb, que hoje deu uma entrevista ao Santa, conhece sobre a composição natural de nossa região. É preciso ouvi-lo com muita atenção quando fala sobre o desastre que é o novo Código Ambiental de Santa Catarina, aprovado no início do mês pelos deputados estaduais e sancionado pelo governador Luiz Henrique da Silveira. Recomendo a entrevista, leitura indispensável.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

A falsa democracia

Recebi um artigo do deputado estadual Amauri Soares (PDT), o Sargento Soares, que se posiciona contrário ao novo Código Ambiental de Santa Catarina. Decidi publicá-lo nem tanto pelo fato de ter posicionamento semelhante ao meu - leia as notas Francamente! e Até quando ??!! -, mas por trazer argumentos claros e ousados.

Segue o texto enviado pelo deputado:

" Infelizmente, os detentores do poder econômico detém também o poder político. O agronegócio fez valer sua força, exigindo dos deputados, cujas campanhas financiam, o voto obediente e cego. A maioria das pessoas não percebem que, quando falam em nome dos pequenos agricultores, estão, na verdade, defendendo o agronegócio e as madeireiras. A minoria dos deputados, que não tem amarras com o poder econômico e nem deve favor político ao governo, infelizmente não consegue virar esse jogo.
O que chamam de democracia é um embuste, pois os interesses econômicos dos grandes sempre prevalecerão com o atual modelo representativo. O que nos resta, aos poucos que não temos e não queremos ter parte nesse jogo - onde a maioria do povo e os interesses gerais sempre perdem - é continuar fazendo a denúncia.
Sei que é pouco, mas é o que podemos fazer, esperando o surgimento de uma nova consciência, que poderá colocar tudo isso pelos ares. Os conscientes são a minoria e as coisas só mudarão quando forem a maioria"

terça-feira, 14 de abril de 2009

Texfair sem Texfashion


A bola ficou dividida na organização do Texfashion, que este ano ficará de fora da Texfair, a feira blumenauense da indústria têxtil. Alguns, pensando na economia, preferiram abrir mão do evento; outros, gostariam de vê-lo mantido. A essa altura do campeonato, foi bom sinal esta divergência.
Afinal, ela mostra que nem todas as empresas sentem-se intimidadas pela crise mundial. E estão nesta condição, pois, devido ao fato de que não sentiram tão grande impacto no fluxo de caixa, à despeito dos solavancos da máquina capitalista. Aos que preferiram a cautela, porém, é preciso dar um voto de confiança. Cada um sabe qual a melhor maneira de cuidar da própria saúde financeira.
Penso, no entanto, que a manutenção do desfile poderia ser um diferencial até mais robusto agora. Muitos lojistas, também de olho na economia em tempo de crise, talvez reduzam o número de feiras visitadas este ano. Se iam a três ou quatro, às vezes mais, em anos de efervescência econômica, talvez escolham apenas uma ou duas em 2009. E daí vão escolher pelos atrativos, pela presença do evento na mídia, etc e tal. Os desfiles do Texfashion, nesta ótica, nos dão grande visibilidade. Com a presença de celebridades e modelos de alto gabarito, já tem espaço cativo na agenda da moda catarinense.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A novela sem fim

Eu, depois da longa hora de conversa que tivemos com o deputado federal José Carlos Vieira (DEM), na quinta feira, desenvolvi mais duas linhas de pensamento sobre a demora no repasse de recursos federais para a reconstrução da cidade: para mim, a culpa pode ser do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), ou do governo de Santa Catarina, na mais lastimável de todas as hipóteses. Lula não tem nada a ver com isso, foi o que pude depreender.
- O presidente Lula até gostaria de repassar os recursos diretamente para os municípios, mas o ministro não tem o mesmo entendimento - comentou o deputado no encontro que tivemos.
É uma informação pra lá de importante, pois vem de um opositor do PT e do Governo Federal.
Há cerca de um ano, li na revista Veja que o ministro constroi um feudo político na Bahia, priorizando o Estado com as verbas de seu ministério. A meta do Geddelzão, na verdade, é substituir o falecido Antônio Carlos Magalhães no coração e no voto dos baianos. O que ele puder dificultar para os demais estados e facilitar para o seu, então, fará. Assim, com a justificativa da burocracia, seca a torneira por aqui e faz a água jorrar mais fartamente por lá.
O PMDB catarinense, por sua vez, deve disputar uma eleição acirrada com o Democratas no ano que vem - a menos que o senador Raimundo Colombo (DEM) não consiga capitalizar novamente os mais de 1 milhão de votos que recebeu em 2006, quando se elegeu para o Senado. Nesta ótica, o enfraquecimento do principal reduto democrata hoje no Estado - Blumenau - seria mais do que estratégico. E para isso, o retardamento do processo de reconstrução seria um tiro certeiro. Cá entre nós, não entendi bem até agora porque o governo do Estado fez tanta questão de centralizar a gestão dos recursos destinados à reconstrução. Logo um pepinão desses, que ninguém quer descascar. É muito estranho.
Enfim, seja de quem for a culpa, quem sofre somos nós. Passou da hora dos políticos pararem com esse tipo de comportamento, precisam aprender a se unir em momentos de dificuldade como esse.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Deputado prestigia Reage Blumenau


Convidado por meu colega blogueiro Fabrício Wolff, participei hoje de um encontro com o deputado federal José Carlos Vieira (DEM), conforme registro fotográfico de Daniel Zimmermann. Vieira esteve em Blumenau e procurou o Fabrício para conversar sobre a campanha Reage Blumenau. O movimento, criado pelo blog "Penso, logo insisto", teve o meu apoio e consistiu em uma cadeia de e-mails enviados a deputados federais e senadores. O conteúdo era o mesmo em todas as mensagens: um protesto contra a falta de recursos federais para a reconstrução da cidade. Repercutiu e muito em Brasília.
No dia 19 de março escrevi aqui um artigo intitulado Deboche. Expus ali minha desconfiança de que poderia haver motivações políticas por trás do atraso na liberação dos recursos prometidos pelo presidente Lula. Hoje, aproveitei para perguntar qual a opinião do deputado sobre o assunto. Polido, evitou semear a discórdia. Mas comentou:
- Dizem que lá na Bahia - estado do Ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), o dinheiro chegou mais rápido.
O democrata desconversou, mas deixou transparecer que nuances políticas na esfera estadual também poderiam estar contribuindo para o problema. A burocracia, no entanto, é o maior inimigo, avalia Vieira. Para agilizar a liberação de verba federal nestes casos, observa, é preciso mudar a lei. Para tanto, destaca, é necessário que o Governo federal apresente uma proposta, pois os deputados não podem legislar sobre o assunto, segundo ele.
_ Na Alemanha, o tal do Avadan consiste numa simples folha de papel A4, assinada pelo município e pelo governo federal. Aqui, uma série de documentos e trâmites atrasa o processo.
Como membro da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, Vieira propôs uma audiência pública sobre a situação do Vale. Ela ocorre na terça-feira, às 14h30, na Câmara.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Francamente!

Caros e estimados amigos leitores, que prazer estar novamente com vocês! Deixei de escrever por longos quatro dias, com o objetivo de alavancar um projeto que eu e uma equipe de feras do jornalismo e das artes gráficas estamos alinhavando. Em breve, daremos a todos este presente, e, asseguro, a satisfação será generalizada.
Pois bem, de volta à análise, vou iniciar o debate discutindo outra vez a aprovação do novo Código Ambiental de Santa Catarina, parido na semana passada por nossos nobres deputados estaduais.
Tava pensando: restam em Santa Catarina cerca de 7% da cobertura original de Mata Atlântica. No caso da Mata dos Pinhais, que cobre - ou cobria - o território catarinense entre o Planalto e o Oeste, este percentual é bem mais baixo. Nesta região, a araucária e suas florestas foram quase totalmente dizimadas.
Como, então, poderíamos imaginar - como imaginou quem propôs e aprovou a nova lei - que é preciso avançar sobre o pouquíssimo que resta da cobertura vegetal para desenvolver o Estado? Acabamos com 93% da floresta e isso não foi suficiente, agora vamos obter progresso e desenvolvimento consumindo o 7% que resta?! Francamente, senhores, francamente, não dá pra engolir, como diria o saudoso Mário Jorge Lobo Zagallo. As professoras Beate Frank
e Lúcia Sevegnani, ambas doutoras e ambientalistas respeitadas, chamam a atenção, em artigo, para mostras evidentes de como se tem mutilado as reservas naturais do Estado. A Faema vem sendo sucateada, enquanto um conjunto de leis aprovadas pela Assembléia entregam aos exploradores os últimos pedaços da floresta catarinense.

Pulgas e grilos

Também me deixa com uma pulga atrás da orelha - aliás, várias pulgas, ou melhor, grilos, muitos grilos - essa história de propaganda institucional pública antes dos filmes no cinema, conforme projeto em trâmite na Câmara de Vereadores de Blumenau. Isso me lembra aquela coisa da maquina de guerra estatal. O facismo e o nazismo da Itália e da Alemanha, na primeira metade do século 20, adoravam este tipo de expediente. Eles também "educavam" o povo...
Tudo bem, vamos lá, os tempos são outros, e a comunicação está definitivamente em nossa vida. Mas para isso a internet está aí, democratizando o espaço, dando ao leitor a opção de encontrar o melhor meio para consumir informação. Será que este é papel do poder público? Quem regulará estes conteúdos, para impedir que se transformem em mera ferramenta de propaganda política? O orçamento municipal, já debilitado, reservará mais verbas para comunicação e publicidade? Quem brigará por estes recursos? Teremos mais licitações, mais lobby, mais Bonificação de Valor - a abominável BV?? Os veículos hegemônicos, digitais e impressos, vão dividir sua bolada junto ao Erário? Quem vai aparecer mais nestas peças publicitárias, os secretários do DEM, do PSDB, do PMDB ou do PP?? Imagina a briga...
Enfim, penso que temos coisa mais importante a resolver. Que tal uma lei que beneficie o setor cristaleiro, que hoje vive uma agonia falimentar? Temos aí a questão do transporte público, caro e ineficiente, para ser debatida e deliberada. Também sofremos com problemas de congestionamento, saúde pública, educação. Temos que priorizar leis de interesse público, abrangentes, consistentes. Um povo que recebe bons serviços é um povo educado, satisfeito, civicamente consciente. Não precisa ver propaganda pública para saber que é cidadão. Duvido que na Dinamarca ou na Suíça alguma cidade obrigue quem vai ao cinema a assistir a propaganda política.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Até quando??!!

O jornalista Michel Imme enviou-me hoje um artigo assinado pela também jornalista e professora Elaine Tavares, que trabalha na Agência de Comunicação da UFSC. Um texto magnífico, esclarecedor, sobre a aprovação do novo Código Ambiental de Santa Catarina. Tomei a liberdade, mesmo que sob o risco de desaprovação da autora, de reproduzi-lo ao fim de meu comentário. Eu, que já tinha uma opinião formada sobre o assunto, reforcei minhas convicções com a leitura sugerida pelo Michel.
A verdade em torno disso tudo é uma só: nossos deputados e gestores públicos mais uma vez colocaram-se como cordeiros fiéis a interesses corporativistas. Mais uma vez o interesse de poucos foi sobreposto ao da maioria. Mais uma vez quem deveria pensar no bem comum pensou apenas em si próprio, no próprio bolso, no próprio bem estar. Essa, para mim, é a verdade.
Não consigo entender como, a despeito dos sinais que a natureza vem dando de seu esgotamento, o homem ainda tenha a coragem de fustigá-la ainda mais! O grande problema é que os rumos da humanidade, muitas vezes, continuam sendo definidos por uma ampla minoria. E logo nós, catarinenses, que podemos nos orgulhar de sustentar um dos trechos mais preservados de Mata Atlântica - o Parque das Nascentes, por exemplo, é a maior reserva municipal do país. Isso parece incomodar muito algumas pessoas, que não admitem ceder em prol da maioria, que não admitem abrir mão da ganância pelo bem de quem nos deu a vida: a mãe natureza.
Sinto-me absolutamente à vontade para tratar do assunto pela ligação que tenho com o meio ambiente. Minha família é proprietária de 110 alqueres de terra em São José do Cerrito, no Planalto Catarinense, a 30 quilômetros de Lages. Área equivalente a 1,8 milhão de metros quadrados. Somos todos apaixonados por aquele lugar, não derrubamos uma única das muitas árvores que há por lá. Nas redondezas, todos se questionam: por que os Pereira nunca venderam nenhuma das araucárias seculares que há no terreno?
Eu respondo: porque elas são as últimas em uma ampla extensão de terra. Algumas chegam fácil a 300 anos e atingem 1 metro de diâmetro, talvez mais. Posso dizer que as amamos tanto quanto nos amamos entre nós.
Além do amor, no entanto, já é possível vislumbrar o quanto elas valerão no futuro, se mantidas em pé. O quanto não pagarão turistas, inclusive estrangeiros, para visitar a propriedade que mantém exemplares tão imponentes e raros de uma espécie ameaçada de extinção??!! O quanto não renderá - assim como já rende - o turismo rural e ecológico, que cobra caro por um dia de hospedagem e atividades?
Se tivéssemos gestores e parlamentares minimamente inteligentes e esclarecidos, tanto quanto honestos e bem intencionados, teríamos aprovado uma lei que incentivasse a preservação e o ecoturismo. Este é o caminho do futuro, é o setor que mais cresce no mundo. Mas não, fizemos justamente o contrário. Vamos incentivar a criação de porcos, de aves e de monoculturas. Vamos produzir para abastecer as nações mais ricas e alimentar a nossa miséria. Miséria esta que engloba os pequenos produtores, aludidos por Elaine Tavares em seu texto. Estes continuarão pobres e miseráveis, mesmo com a lei que, manipulados, ajudaram a aprovar.
Os pequenos produtores não produzem próximo a rios nem precisam desmatar áreas virgens. Eles já têm áreas desmatadas para plantar. Não vencem por uma série de outros fatores, como falta de regulação do mercado, ausência de financiamentos, juros altos, insumos caros, produção desprotegida, crise externa. Não é a destruição da natureza que irá salvá-los, muito pelo contrário.

Segue o artigo da autora:

Pela ordem, senhores!
Por Elaine Tavares – jornalista

A Assembléia Legislativa de Santa Catarina votou e aprovou por amplíssima maioria o novo Código Estadual do Meio Ambiente. Não valeram os estudos, as contradições, a polêmica, nem mesmo a sombra da tragédia ambiental que se abateu sobre a região do Vale do Itajaí, que praticamente derreteu a cidade de Blumenau. Dos 41 deputados, 38 votaram sim, sete se abstiveram e dois estavam ausentes. Nas galerias lotadas de pequenos agricultores vindos de todos os cantos do estado, não havia espaço para a dúvida: o código era a salvação da lavoura. Usando o artifício da manipulação, os deputados transformaram toda discussão da lei num único ponto: o espaço nas margens do rio. Durante os discursos, foi o que predominou. Os ambientalistas, acossados em um pequeno espaço do plenário, eram vistos como inimigos. Ao final, o que parece ter ficado realmente claro é que os organismos de luta ambiental não conseguiram levar o debate aos agricultores, o que favoreceu aos governistas, que deram coloração ideológica ao tema. Tampouco os demais movimentos organizados, como os sindicatos mais combativos, se envolveram na luta. O resultado foi, em nome do “desenvolvimento”, a abertura de uma porta para a destruição ambiental do estado que já acumula a estatística de ser o que mais degrada a mata atlântica.
O cenário da trama
Plenário lotado, saguão da assembléia também. Como o espaço ficou pequeno, mais um telão foi montado na rua, sob uma imensa e cara estrutura de lona. Os discursos se sucediam em clima de guerra. As falas iam direto ao coração dos pequenos produtores, que passaram a figurar como os “grandes prejudicados”, caso o código não passasse. Assim, a lógica era essa: quem se manifestasse contra o código era automaticamente contra a pequena produção. Não havia meio termo.
Entre os milhares de pequenos produtores que se postavam em frente aos telões o clima era de confronto com qualquer um que parecesse ligado à luta ambiental. “A senhora é ambientalista?” Diante da negativa, as falas transbordaram em justificativas. E , no fundo, eles certamente tem razões para buscar a aprovação do código, embora não conheçam dele as “letras pequenas”. No geral, querem apenas defender o direito de plantar mais perto do rio e cortar as árvores que hoje estão proibidas de corte como a araucária e o angico.
Vindo da cidade de Bocaiúva, Ivone Rodrigues da Silva, mais conhecido como “Calça-Larga” não hesita em defender o código. Com ele vieram mais dezenas de agricultores lotando quatro ônibus. “A senhora veja que um pequeno produtor tem pouca terra. Se tiver de deixar 30 metros do rio, o que nos sobra? Nós vamos ficar sem espaço para plantar. E somos nós os que plantamos a comida de toda a gente. Como vamos produzir arroz, feijão?”
Fernando Carlos Mezzaroba veio de Videira, também num grupo de vários ônibus. A preocupação dele é com a madeira. “E as árvores? Eu tenho 400 pinheiros lá na minha terra e não posso fazer nada com eles. Então, o que a gente faz? A gente corta quando elas brotam, porque se vingar, não dá mais pra tirar. Isso é o que acaba com o pinheiro, porque ninguém mais quer plantar”.
Rubens Hoffmann, de Mirim Doce, também justificava o apoio na necessidade de usar o espaço perto do rio. “A gente planta, mas a gente conserva. A gente faz o manejo de forma correta. Nós fazemos isso a vida inteira. Agora tá esse problema todo porque não se pode mais cortar árvore. Nós sabemos como fazer. Ninguém aqui é contra preservar a natureza, mas nós precisamos sobreviver”.

Calça-Larga insistia em dizer que sem essa liberação das margens do rio os pequenos vão migrar para a cidade e causar mais problema social. “No campo a gente vive melhor, na cidade o caminho é o da marginalidade. Mas se não tivermos terra, como vamos fazer? Esses ambientalistas que são contra o código não conhecem o campo, não tem um palmo de terra. A gente sabe como usar e cuidar”.

Sem orientação
Os agricultores centram suas críticas nos órgãos de fiscalização. Segundo eles, a polícia ambiental tem mais poderes que a polícia normal. “Eles entram e prendem se a gente arrancar uma árvore. Nós não somos ladrões, isso não tem cabimento. A gente só quer plantar. Não tem ninguém para nos orientar, só sabem fazer autuação”.

Esse desabafo dos camponeses tem sua dose de sentido. Orientação é o que parece não haver, seja do ponto de vista do estado, seja do ponto de vista dos movimentos ambientalistas. O discurso contrário ao código não conseguiu se espalhar entre os agricultores, ficou confinado a debates acadêmicos. O governo, espertamente, bateu em dois pontos muito específicos e, com o apoio das entidades de classe, conseguiu a adesão de toda a gente. Poucos dos que faziam vigília em frente à Assembléia sabiam que os maiores beneficiados com o novo código são as gigantes empresas de aves e suínos. Estas sim é que encherão seus baús destruindo os rios e as florestas. Para se ter uma idéia, conforme dados do Levantamento Agropecuário Catarinense, dos aproximadamente seis milhões de hectares que servem à produção agrícola de Santa Catarina, 32,52% pertencem a apenas 1,9% dos proprietários rurais, detentores de grandes latifúndios. E aos pequenos, grande parte no sistema de integração do agronegócio, coube vir fazer a pressão.

Outra coisa que produtores reunidos na Praça Tancredo Neves não sabiam é que, se a preocupação pela aprovação era o uso das margens dos rios, então não precisava tanta mobilização, uma vez que o pequeno agricultor familiar, em função da reconhecida função social da sua atividade, já tem autorização legal, pelo próprio Código Florestal (lei 4.771/65) - que a lei estadual em questão pretende revogar - para utilizar as áreas de preservação permanente, desde que o faça mediante um sistema de manejo agroflorestal sustentável. Muitos deles ao receberem essa informação ficavam em silêncio, não acreditando.

O que predominou foi a ideologia do progresso. Nas faixas colocadas por todo o plenário e no lado de fora, esse era o recado. O campo quer embarcar no trem do progresso, mesmo que para isso a natureza tenha de ser sacrificada. O já antigo discurso de domínio do homem sobre a natureza segue pontificando, a despeito de todos os sinais que o planeta tem dado de que, se não há cuidado com a natureza, é o homem quem sofre. Nesse caso, ainda foi usado o desconhecimento dos camponeses sobre o Código Florestal, levando-os a sair de suas casas para defender um direito que eles já tem. Na verdade, o que vieram fazer na capital, depois de horas de viagem, foi garantir vantagens aos grandes, aos que já absorvem toda a sorte de privilégios e que estavam tolhidos pelo Código Florestal. Estes, pelo seu lado, não se fizeram visíveis na Assembléia.

Para um pequeno agricultor que levanta de madrugada e com sacrifício consegue plantar apesar de todas as condições contrárias, fica bem difícil aceitar o argumento de que eles não preservam a natureza. E, de certa forma, isso não é verdade. No geral, os pequenos produtores sabem muito bem como fazer o manejo dos recursos naturais. O que talvez não tenham ainda se dado conta é que, em Santa Catarina , muito da agricultura de subsistência foi desbancada pelo sistema integrado, no qual o pequeno segue sendo o dono de sua terrinha, mas está de forma irremediável dependente da grande empresa. É ela, em última instância, que dá as cartas e define as pautas.

Mas, sobre isso, os seus organismos de classe não fazem debate, a mídia aponta os ambientalistas como eco-chatos, terroristas, hippies e outros tantos adjetivos que induzem ao desmerecimento das causas, e o governo busca usar as dificuldades dos pequenos para favorecer, na verdade, aos grandes empresários do agronegócio. São apenas negócios. A natureza é só cenário para o chamado “desenvolvimento”. Para que venha a riqueza da “modernidade” é preciso destruir as margens dos rios, ocupar os topos de morro, garantir o corte indiscriminado das árvores e outras tantas aberrações. Os pequenos são engolidos por esse discurso e os grandes seguem desfrutando dos benefícios das leis especialmente preparadas para eles.

O fim da espécie
A aprovação do Código Estadual de Meio Ambiente deixa muito visível o significado do chamado sistema democrático-capitalista. Este é, na verdade, um sistema sem lei. Nele, as leis mudam sempre que for necessário atender aos interesses do grande capital. E, de forma extremamente competente, o sistema consegue enredar nas suas tramas aqueles que deveriam ser os seus maiores opositores. É a velha alienação já apontada por Marx.

De qualquer forma, a luta contra o código catarinense não termina aqui. Há muitas disputas a se fazer no campo jurídico e há tempo para se fazer a orientação necessária tanto entre os agricultores como na comunidade urbana. Vai depender da vontade política dos movimentos sociais, dos sindicatos, em assumir isso como uma luta conjunta em defesa da vida.

Os efeitos da destruição causados pelo modelo de desenvolvimento capitalista estão aí e se manifestam cotidianamente nas secas, nas enxurradas, nos dias de extremo calor, de extremo frio, no efeito estufa, nos tsunamis, nos ciclones, nos furacões, no derretimento das geleiras. Todas estas coisas acabam afetando a vida dos humanos em geral, como espécie. Segundo o cientista inglês James Lovelock, a terra é um sistema vivo que se auto-regula. Se o homem busca destruí-la com seu desejo de domínio, vai se dar mal. A terra tem condições de suportar os processos de degradação, ela realiza transições, vai se acomodando. Lovelock deixa claro que a destruição provocada pelo humano pode levar ao desaparecimento da espécie, não da terra. Esta se recupera.

O código ambiental de Santa Catarina legaliza o crime contra a natureza. Ela vai balançar, mas deve resistir. Já o homem... Talvez seja hora de se discutir de forma mais sistemática e responsável o modelo de desenvolvimento que nos é apresentado como panacéia de progresso e modernidade. Sem mudar o nosso modo de organizar a vida, fatalmente pereceremos como espécie.
Já o teatro do poder, protagonizado pelos deputados catarinenses, este deve ser visto como o que realmente é: um espaço de porta-vozes a soldo do grande capital. Não é à toa que seu bordão mais usado é o indefectível: “pela ordem, senhores”. Pois é, pela ordem!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Era a hora?

Li na Folha de Blumenau, hoje, que as nomeações dos cargos que ainda não foram preenchidos no governo municipal ficarão para a segunda semana de abril. Entendo que este governo é a continuidade do outro e que cautela na composição da máquina até é bom, mas já não é tempo demais? Outra coisa: esse povo que está trabalhando como "voluntário" tem qual objetivo, contribuir para o bem estar da população blumenauense, imbuídos de louvável espírito cívico? E ainda: se tá dando pra tocar o barco faltando tanta gente, não é possível vislumbrar a possibilidade de manter a máquina funcionando com um corpo bem mais enxuto? Teríamos uma boa economia de recursos públicos.
Respostas que só o prefeito pode dar. Aliás, este encontro do Democratas em Nova York, onde está Kleinübing, bem poderia ter sido organizado em outra hora. Sabemos que JPK trabalhou arduamente desde novembro e que o objetivo da viagem - conhecer modelos bem sucedidos de gestão pública - pode até ser nobre, mas ainda há muitos problemas na cidade. O cenário de crise, da mesma forma, deixa pouco simpática a iniciativa do partido, que deve estar gastando uns bons trocados em Washington. Cidadezinha cara é aquela, onde uma cerveja chega a custar 7 dólares - incluída a sagrada gorjeta do garçon - e o aluguel de uma espelunca atinge a bagatela de 1,5 mil dólares. Imagine o quanto a turma democrata não está gastando só com diária de hotel e comida em restaurante?!