quinta-feira, 16 de abril de 2009

Ouçam o Bacca

Conheci o professor Lauro Bacca em 2000, quando comecei a trabalhar como jornalista, no Santa. Era minha primeira grande reportagem. Partimos do alto do Fachinal do Bepe, no topo do Parque das Nascentes, ao Sul do Vale do Itajaí, coração de uma das mais bem preservadas reservas de Mata Atlântica do país. Lembro como se fosse hoje: um dia cinzento e frio, com vento forte, refletido na copada das palmeiras gigantes que habitam aquela região. Penetramos na mata alta e densa pelo início da manhã. Andávamos sem enxergar os pés, pois estes sumiam em meio a uma enorme população de caetés, vistosos e robustos. Um tapete verde.
Em poucos passos, eu olhava ao redor e já não tinha a menor noção de onde estava. O Sul e o Norte haviam se fundido, aglutinando também o Leste e o Oeste. A floresta era uma coisa só, imponente, vistosa, magistral, fascinante e, ao mesmo tempo, aterradora. Mágica, simplesmente. Caminhávamos em cinco: eu, Bacca, Leocarlos Sieves, Elias (ex-presidente da Acaprena, que não lembro o sobrenome) e um estudante da Furb. O único capaz de nos orientar por aquela massa verde e homogênea, no entanto, era o Bacca. Ele guiava-se por um desses mapas denominados curva de nível, que nada mais são do que um emaranhado de linhas indecifráveis, pelo menos a "olho nu". Quem entende aquilo, porém, vê toda a sequência de relevos e cursos d´água de um local. E por estes indícios o professor e ambientalista nos levava pela Selva.
Em alguns minutos, chegamos a nosso objetivo: a nascente do Ribeirão Garcia. Ali, surge o córrego que, em novembro do ano passado, devastou o Sul de Blumenau, onde estão os Bairros Garcia e Progresso. Ele nasce preguiçoso, gota por gota, brotando da terra sob a raíz das árvores. Vem ao mundo como o herói Macunaíma, despretencioso, malevolente, inconsequente e cheio de preguiça. Juntas, contudo, as gotas vão ganhando força e começam a correr. Seguem em frente até tornarem-se um pequeno risco d´água, que persiste em sua saga e vai ganhando a adesão de outras pequeninas corredeiras. Aos poucos, o volume vai ganhando proporção e aí toma a face de um córrego caudaloso. Seguimos o leito do Garcia, ora pela água, ora pela terra.
Ao fim daquele dia, a noite começava a cair sobre a floresta e alguns de nós - como eu - já demonstravam certa aflição. Íamos em direção à chamada Terceira Vargem, uma base de aventureiros no alto do Parque das Nascentes. Passaríamos a noite lá, mas ainda estávamos longe e a luz do dia dava sinais de esgotamento.
A aflição ia rapidamante virando pavor, até que o Bacca, olhando aqueles hieróglifos geográficos, suspirou: é esse aqui!! Ele apontava para outro dos inúmeros córregos que margeiam o Ribeirão Garcia. Seguimos por ele até sair em uma estradinha escondida na mata, e esta, por sua vez, nos levou ao rancho da Terceira Vargem. Chegamos já no alto da noite. Comemos feijoada enlatada, tomamos um conhaque e demos boas risadas. Menos o Bacca, que preferiu seguir mais alguns quilômetros, usando uma lanterna, para vencer a mata e chegar à sua casa.
Conto tudo isso para mostrar o quanto o professor e ambientalista da Furb, que hoje deu uma entrevista ao Santa, conhece sobre a composição natural de nossa região. É preciso ouvi-lo com muita atenção quando fala sobre o desastre que é o novo Código Ambiental de Santa Catarina, aprovado no início do mês pelos deputados estaduais e sancionado pelo governador Luiz Henrique da Silveira. Recomendo a entrevista, leitura indispensável.