sexta-feira, 8 de maio de 2009

Parece brincadeira, mas não é

É assim que nossos magistrados classificam o sofrimento imposto aos clientes pelas agências bancárias de Blumenau: “mero aborrecimento que não causa dano moral”. É o que informa o Santa em reportagem publicada hoje. Assim fica difícil, chego a desanimar.
Não sou jurista, portanto preciso ter cautela ao falar disso. Mas pergunto: será que algum dos juízes da Segunda Turma de Recursos de Blumenau, que indeferiu diversos pedidos de indenização feitos por clientes a instituições bancárias, já esperou duas horas para ser atendido numa fila de algum banco? Será, hein? Dificilmente, pois, para este tipo de cliente, os gerentes se desdobram e resolvem tudo por telefone.
Pois eu já passei por esta humilhação. E é assim que você se sente: humilhado. Sua autoestima cai, e um sentimento aterrador, de impotência e revolta, toma conta de sua mente e seu corpo. Basta ver o semblante das pessoas que estão ali. Chego a ter taquicardia. Sem falar que, não raro, compromissos são perdidos, às vezes oportunidades também. Fico pensando, revoltado: vai ano e vem ano e o número de caixas atendendo é o mesmo! Pior: muitas vezes diminui, sob a alegação de que a automatização dos serviços traz mais rapidez e conforto aos usuários. Ao mesmo tempo, o lucro dos bancos é cada vez maior, conforme os balanços anuais divulgados pelo mercado financeiro. E são sempre inversamente proporcional à satisfação dos clientes, que pagam cada vez mais taxas e esperam cada vez mais tempo nas filas.
Por isso que um banco é mesmo um ótimo negócio: você cobra caro pelo produto, oferece pouca qualidade no serviço, emprega pouquíssima gente mas ouve o tilintar do caixa soando sem parar. Eu sempre quis ter um negócio assim, como diria o Zeca Pimenteira.
E, depois de tudo, quando o cliente busca algum direito na Justiça, nem a lei é suficiente para aliviar-lhe a dor, pois, para os juízes, o calvário das agências é “mero aborrecimento que não causa dano moral”. Parece até brincadeira, mas infelizmente não é.