quinta-feira, 7 de maio de 2009

Silêncio rompido

Nota 10 pro Santa hoje, que foi atrás dessa história do Marçal. Escrevi sobre isso ontem, lembrando a importância do envolvimento dos grandes veículos na cobertura do caso. Eles estavam em um silêncio emblemático, finalmente rompido hoje pelo JSC. Se a imprensa não acompanhar o assunto, a coisa esfria e dá bem no que eles, os políticos, querem: abafar o caso e evitar desgastes. Pelo menos os da situação, é claro. A oposição, óbvio, fará barulho se lhe derem voz.
O grito, no entanto, deveria ser de todo o Legislativo. Também já escrevi isso aqui: é a honra da Câmara de Vereadores que está em jogo! A mesa diretora, os líderes de bancada, presidentes de comissão, enfim, o cerne político do parlamento municipal deveria assumir um posicionamento claro e objetivo, no sentido de rechaçar a conduta do vereador João José Marçal (PP), que tentou convencer guardas de trânsito a fazer vista grossa perante irregularidades constatadas em um micro-ônibus de transporte escolar. Se fizessem isso, ganhariam muitos votos de confiança da sociedade. Caso contrário, assumirão a pecha de coniventes com a irregularidade.
E digo mais: se o próprio Marçal já tivesse reconhecido o erro e pedido desculpas publicamente, todos já teriam esquecido o caso. Mas não, insiste naquele que é seu discurso mais manjado:
- O PT quer me derrubar.
Quem pode derrubá-lo é ele próprio, com a besteira que fez. E pior: na entrevista que deu ao Santa hoje, ele alega ter documentos que comprovariam irregularidades supostamente cometidas por agentes da Guarda de Trânsito. Isso é grave, ele precisa, então, entregar tais documentos, pois é uma autoridade e como tal não pode sonegar informações de interesse público. Seria mais um motivo para quebra do decoro parlamentar, ou estou enganado?
Também achei que o vereador Marco Antônio Wanrowsky (PSDB) poderia ser mais corajoso em suas afirmações. "Pelo que se tem dito, ele (Marçal) teve uma conduta de abuso de poder", declarou o tucano. Como assim "pelo que se tem dito", vereador? É pelo que se viu e ouviu, está gravado, a prova é farta!
Até o momento, a postura que mais me agradou foi a do vereador Napoleão Bernardes (PSDB), que, embora nas entrelinhas, condenou a atitude do colega progressista. Podia ser uma postura mais explícita e clara, mas aí tem que dar o desconto das subjetividades.
Quanto à origem da mal fadada gravação, é difícil saber ao certo. Mas me parece plausível pressupor que duas possibilidades são as mais possíveis: ou partiu do PMDB, que não se bica com o PP, ou realmente verteu no PT, que, diz uma fonte, teria a simpatia dos agentes de trânsito que abordaram Marçal.
Eu discordo de que o prefeito João Paulo Kleinübing (DEM) não tenha nenhum interesse nisso. Ele tem sim, ou, pelo menos, precisa ter, já que o episódio é evidência clara de que as discrepâncias dentro da base existem e são fortes. Afinal, nada disso teria acontecido se houvesse mais harmonia em sua equipe. Bastaria a ordem de um comandante mais graduado para que a operação de gravação e vazamento fosse abortada. Custo a creditar que guardas de trânsito a serviço do PT fossem capazes de sobrepujar todo o comando para forjar a emboscada. Parece-me mais factível, e isso é só uma opinião, que a decisão de levar a cabo a empreitada teria partido de extratos mais elevados do poder Executivo.
O fato indiscutível é que, ao ponto em que as coisas chegaram, só resta cassar Marçal para que a alma de todos possa ser lavada. E olha que esta estratégia é velha conhecida dos marketeiros: em caso de escândalos indiscutíveis, reconheça o erro, peça desculpas e anuncie mudanças para corrigi-lo. O assunto sai da mídia, as pessoas aplaudem sua postura humilde e tudo logo volta ao normal. A mídia pula para a próxima polêmica e você segue sua vida.
Mas não, é aquela velha mania que temos, principalmente quando somos criança, de esconder as falhas mais graves de nossos pais. Quando na verdade deveríamos dividir com eles nossos desvios, para que nos ajudassem a retificar nossa conduta.